terça-feira, 7 de setembro de 2010

Reforma da aposentadoria leva 1 milhão às ruas na França; governo não deve alterar plano

Folha de São Paulo

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, enfrentou nesta terça-feira uma nova jornada de protestos e greves contra seu projeto de reforma do sistema de aposentadoria, que prevê aumentar de 60 para 62 anos a idade mínima legal para que os franceses parem de trabalhar.

Os oito sindicatos da França que organizaram a mainfestação aguardavam mais de duas milhões de pessoas nas ruas, em mais de 200 atos. O sindicato CFDT calculou que ao menos 2,5 milhões de pessoas tenham aderiram aos protestos. Já o ministério do Interior informou que cerca de 1 milhão de pessoas participaram em várias cidades do país.

No entanto, a mobilização não deve mudar os planos do governo de Sarkozy. Através de representantes de seu partido UMP, o chefe de Estado anunciou que manterá o aumento da idade mínima, principal ponto de uma reforma considerada "prioridade absoluta" de sua presidência, cujo mandato se encerra em 2012.

Em Paris, um dos maiores protestos foi liderado pelos principais dirigentes sindicais franceses. Os manifestantes partiram da Praça da República às 14h30 (9h30 de Brasília) carregando uma faixa com a frase "aposentadorias solidárias, empregos, salários: um problema social".

Durante a tarde, as manifestações prosseguiram em todo o país. Em Paris, a CGT --principal sindicato francês-- calculou em 270 mil o número de pessoas que saiu às ruas para protestar. A polícia, por sua vez, diz que não foram mais de 80 mil manifestantes.

O dia de protesto incluiu uma greve nos transportes públicos, hospitais, correio, serviço audiovisual público e setor privado, como bancos e empresas como a petroleira Total. A paralisação afetou consideravelmente os serviços ferroviário --com 42% de adesão segundo os sindicatos--, e urbano, como o metrô de Paris, que circula com menos frequência e lotado. O setor aéreo, com 25% de adesão, também foi afetado nas rotas domésticas e dentro da Europa.

O governo argumenta que a reforma é necessária para salvar um sistema ameaçado pelo aumento da expectativa de vida e pelas consequências da crise econômica, que triplicou o déficit das pensões em 2010 para 32 bilhões de euros, segundo dados de um organismo independente.

"Acuso o governo de não ter negociado com os sindicatos e com os partidos de oposição", declarou o chefe do bloco socialista, Jean Marc Ayrault.

O primeiro-ministro francês, François Fillon, e o ministro do Trabalho, Eric Woerth, defenderam o projeto de Sarkozy em um discurso na Assembleia Nacional.

"Se não fizermos a reforma, não haverá dinheiro para pagar as aposentadorias dos franceses", afirmou Woerth, destacando que o aumento da idade mínima é "essencial".

A França, com mais de 15 milhões de aposentados, mantém uma das menores idades mínimas para aposentadoria da Europa - embora com a exigência de 40 anos de trabalho.

Há dúvidas, contudo, se o governo de Nicolas Sarkozy conseguirá aprovar a medida diante do impacto da greve desta terça-feira. Os sindicatos estimam que mais de 2,5 milhões foram protestar nas ruas de vários cidades francesas contra a medida, vista pela maioria como uma injustiça social. De qualquer forma, a manifestação é ainda maior do que os protestos antigoverno do último dia 24 de junho, que atraíram entre 800 mil [números do governo] e 2 milhões de franceses [segundo o sindicato].

EM BAIXA

A presença massiva dos franceses é ainda mais um golpe a Sarkozy, que amarga a taxa de popularidades mais baixa de seu governo e tem apelado a medidas de apoio na extrema direita para reviver o apoio ---como expulsão de ciganos, proibição do véu islâmico integral nas ruas e cerco aos imigrantes.

governo conservador diz que a reforma é essencial para equilibrar as contas de pensão até 2018, reduzir o déficit público e preservar a alta nota do sistema de crédito da França --que ajuda a pagar os menores juros possíveis no mercado financeiro.

Mas com a queda da popularidade de Sarkozy, dois assessores do presidente sugeriram neste domingo que ele pode alterar ao menos um "escudo fiscal" amplamente criticado que previne que os ricos paguem mais de 50% de sua renda para o Estado.

O escândalo envolvendo Woerth, sobre suposto conflitos de interesse e doações ilegais, enfraqueceu a sua posição e ajudou a conduzir os protestos contra a lei de pensão, visto como a reforma de Sarkozy mais emblemática para a campanha das eleições de 2012.

A França tem uma tradição de militância, embora apenas cerca de 10% dos trabalhadores sejam sindicalizados, principalmente no setor público. A revolta de 1995 obrigou o presidente Jacques Chirac a abandonar planos de reforma das pensões e da saúde, e, em 2006, os protestos de estudantes acabaram com os planos para estabelecer contrato de trabalho com baixos salários para jovens.

Mas o clima é diferente agora e muitas pessoas aceitam o argumento de que a crescente expectativa de vida e as abaladas finanças públicas tornam a reforma inevitável. "Ao contrário de 1995, quando multidões semelhantes foram às ruas, não há o sentimento de que podem ganhar algo", disse Cayrol, da Sciences Po.

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